O Pecado do Estoico

Se o estoico quiser comer pizza hoje, ele deve calmamente entender e internalizar que a pizza está fora do seu controle. Ele pode até colocar para si mesmo o objetivo de fazer tudo que está dentro deu alcance para que hoje ele coma pizza, mas o comer em si está fora da sua fortaleza.

Até aí, tudo bem.

Mas se o estoico comeu pizza ontem (e gostou), então o acontecido já está no passado, já é fato. Nem Zeus pode tirar isso dele — já que, que eu saiba, os antigos sequer discutiram a possibilidade de viajar no tempo.

A pergunta então é: é lícito ao estoico regozijar-se de ter comido a pizza? Ele certamente não pode animar-se de comer a pizza antes de tê-la comido, mas após... é fato, está feito, faz parte de quem ele é agora.

Com efeito, nenhum humano é capaz de atingir qualquer habilidade intelectual significativa, como seria o caso de um estoico, sem ter incorporado experiências que estavam fora de seu controle. Toda a infância, sobretudo a primeira, é um período em que estamos expostos às influências externas de uma forma bastante impotente. Se ninguém nos tivesse ensinado a falar, não haveria discurso estoico a ser defendido.

Assim como a nossa habilidade de falar, a pizza está incluída no pacote. Sorria, portanto.